A NOIVA DO CEMITÉRIO



 


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Os acontecimento que irei relatar aqui foram contados pela minha querida avó, tendo-os como verídicos.

Minha avó me contou que ela tinha um parente distante, um moço de nome Ricardo, o qual era apaixonado por uma moça, que parecia também corresponder a esse sentimento, mas aconteceu que ela pertencia a uma família rica e tradicional, enquanto que ele era de uma família humilde e trabalhava na venda ajudando seu pai.
Mesmo assim, a jovem Cecília se encontrava secretamente com ele e combinaram de fugir juntos.
Ricardo, com muito sacrifício, conseguiu juntar um pouco de dinheiro e comprou um anel com uma pequena safira, bem simples, para selar o noivado com sua amada.

Na noite marcada para a fuga, porém, Cecília não apareceu. Ricardo esperou por muito tempo, em vão.
Angustiado, no outro dia foi sorrateiramente até o palacete onde a moça morava e, qual não foi sua surpresa e amarga decepção, ao se deparar com uma festa suntuosa, a qual celebrava o casamento de Cecília com moço rico da capital.
A moça zombara dele o tempo todo!
Cego de dor e atordoado, Ricardo voltou correndo pela estrada, entrou em sua casa, pegou o revólver que era de seu pai, e correu para o cemitério, onde pretendia suicidar-se.

Lá chegando, correu para os fundos, e parou entre as árvores, perto de uns jazigos enegrecidos pelo tempo.
Quando ia disparar a arma contra a própria cabeça, a lua cheia surgiu de trás das nuvens e iluminou um túmulo próximo, onde havia o retrato de uma jovem, já amarelado pelo tempo.
Ricardo ficou impressionado com a beleza daquele rosto e chegou mais perto.
O nome dela era Ana Leopoldina e falecera em 1878, aos 18 anos de idade.

Sentado no túmulo, Ricardo começou a chorar copiosamente, mas não conseguia tirar os olhos daquele rosto.
Um misto de consolo e atração o invadiu, e ele começou a se sentir melhor, fazendo com que jogasse longe o revólver, com nojo de sua covardia.
Então lembrou-se do anel com a pequena safira dentro de seu bolso, e o colocou sobre o túmulo, dizendo:

" - Fique com isso, seja minha noiva! Você deve merecer o que a outra não quis..."
 

E voltou para casa.

A partir daquela noite, Ricardo começou a sentir uma grande paz no coração e principiou um intenso relacionamento com Ana Leopoldina.
Todos os dias, depois do trabalho, ele ia até o cemitério, limpava o túmulo, conversava com ela e levava flores frescas.
O anel que ele deixara sobre o túmulo havia desaparecido, e Ricardo pensou que alguém naturalmente roubara.

Certa noite, Ricardo acordou em seu quarto sentindo um suave perfume de rosas... abrindo os olhos, viu aos pés de sua cama o vulto delicado de uma jovem, com um vestido esvoaçante, cabelos sedosos esvoaçantes, em meio a uma luz bem clara e suave.
Então ele reconheceu as feições: era Ana Leopoldina.
Ela então estendeu a mão, onde brilhava o anel com a pequena safira que Ricardo havia deixado sobre seu túmulo, e disse:

" - Eu aceito Ricardo, ser tua noiva, vem comigo, meu amor..."

Extasiado, ele a abraçou, a beijou loucamente e os dois fizeram amor, selando sua união.

Dali a pouco tempo Ricardo desenvolveu uma leucemia e veio a falecer, e antes de fechar os olhos para sempre, disse: "você veio, meu amor..."

Eis o que minha avó me contou. Cada um tem o direito de acreditar ou não...

 

Chiara - Pelotas - RS - Brasil
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